Dupla ex-Revolut arrecada US$ 2,3 milhões para criar 'conta bancária blockchain' Bleap

Os ex-funcionários da Revolut, Joao Alves e Guilherme Gomes, arrecadaram US$ 2,3 milhões em financiamento pré-seed, liderado pela Ethereal Ventures, do fundador da Consensys, Joe Lubin, para construir a Bleap — uma "conta bancária no blockchain".

Maven11, Alliance DAO, Robot Ventures e Credibly Neutral também participaram da rodada ao lado de investidores-anjo, incluindo executivos-chave da Revolut, Phantom, OKX, EigenLayer e Consensys. O capital arrecadado eleva a empresa a uma avaliação pós-dinheiro de US$ 10 milhões, disse Alves ao The Block.

O financiamento será usado para ajudar a desenvolver o aplicativo de pagamentos de autocustódia, que permite aos clientes gastar stablecoins no mundo real por meio de um cartão de débito Mastercard vinculado, prometendo nenhuma taxa de conversão ou câmbio e até 2% de cashback em compras.

Os ex-funcionários da Revolut acreditam que a tecnologia blockchain é a base para o futuro das finanças, com o conceito da Bleap começando a tomar forma em julho de 2023. “Queríamos um aplicativo que combinasse o poder do blockchain com o melhor do setor bancário”, disse Alves, que anteriormente liderou o programa de cartões da Revolut. “Um aplicativo bancário que seria radicalmente melhor do que qualquer outra coisa disponível hoje.”

"A tecnologia blockchain nos permite criar experiências que as infraestruturas financeiras tradicionais simplesmente não conseguem", acrescentou Gomes, cofundador da Bleap, que liderou várias equipes de produto na Revolut.

O neobank também suporta contas multicurrency com taxas de poupança cinco vezes maiores que as dos bancos tradicionais, afirmou a equipe, possibilitadas por stablecoins e finanças descentralizadas, e também permite que os usuários transfiram fundos globalmente, instantaneamente e sem taxas.

Como a Bleap funciona

Construída na rede Ethereum Layer 2 Arbitrum, a Bleap permite transações rápidas e sem gás e substitui frases-semente tradicionais por armazenamento em nuvem e logins sociais, aproveitando a tecnologia de Computação Multi-Party do PortalHQ. MPC é uma tecnologia criptográfica que pode melhorar as técnicas multi-sig existentes, permitindo efetivamente que as chaves da carteira sejam divididas entre o usuário e o PortalHQ.

Quando um usuário assina uma transação, seu dispositivo usa sua parte da chave enquanto o aplicativo busca uma parte de backup do PortalHQ, disse Alves. Para fazer backup com segurança da parte do usuário, o aplicativo a gera e a criptografa com uma senha derivada usando AES e SHA256, armazena no servidor da Bleap e envia a senha por e-mail ao usuário enquanto a salva na nuvem. Isso elimina a necessidade de uma frase-semente, já que apenas o usuário tem acesso à senha, mantendo a semente criptografada e segura, afirmou ele. Se o usuário perder o telefone, ele pode recuperar sua conta autenticando-se com 2FA e descriptografando sua parte usando a senha de backup, embora possa exportar sua chave completa a qualquer momento para armazenamento offline.

Após os usuários criarem uma conta Bleap, uma carteira inteligente alimentada por abstração de conta (ERC-4337) é implantada, oferecendo uma experiência segura e amigável ao usuário semelhante ao web2 para gerenciar ativos web3, explicou a equipe. Os usuários podem adicionar stablecoins de carteiras externas ou comprá-las com fiat por meio do serviço de rampa de entrada e saída de criptomoedas sem taxas da Bleap.

A carteira inteligente da Bleap suporta as stablecoins USDC, USDT, USDA e EURA. Ela é implantada apenas no Arbitrum, sem planos de implantação em outras redes no momento, confirmou Alves. 

No entanto, os serviços de rampa de entrada e saída e de ponte da Bleap atualmente suportam Arbitrum, Ethereum, Polygon, BNB, Solana e Bitcoin, disse ele. Isso também permite que os usuários comprem várias criptomoedas nas redes suportadas e as recebam diretamente em sua própria carteira não custodial externa, de acordo com seu site.

O maior desafio enfrentado pela equipe foi descobrir como conectar um blockchain público a um sistema centralizado como o Mastercard de forma rápida e econômica, mantendo a autocustódia, disse Alves, explicando que houve alguns obstáculos no front regulatório.

“Para a parte do cartão, estamos fazendo parceria

com provedores que estão acostumados a trabalhar com criptomoeda, mas como estamos fazendo algo novo, algumas coisas demoram mais do que normalmente demorariam no mundo fintech”, disse ele. “Mas, no geral, sinto que há muita vontade de todos nos pagamentos para fazer os pagamentos em criptomoeda funcionarem.”

Explicando o fluxo, Alves deu o exemplo de um cliente fazendo um pagamento de $5 na Starbucks. A Bleap recebe a solicitação da Mastercard e verifica se a carteira do usuário possui um valor equivalente, como 5 USDC. Uma vez confirmado, a Bleap aprova a transação e simultaneamente a recria na blockchain, cobrando a carteira do usuário em stablecoins. Após receber as stablecoins, a Bleap as converte para o equivalente em moeda fiduciária e liquida com a Mastercard.

Esse processo funciona porque, quando o cartão é criado, o usuário autoriza o assinante do cartão da Bleap a deduzir fundos de sua carteira — uma permissão que pode ser revogada a qualquer momento cancelando o cartão ou definindo limites personalizados. Ao contrário de outros cartões de criptomoeda, a Bleap não exige a conversão de criptomoeda para moeda fiduciária primeiro — economizando em taxas de conversão e câmbio e tornando o gasto mais fluido, disse ele.

O cashback oferecido vem de uma combinação de múltiplos incentivos que a Bleap recebe de seus parceiros, incluindo taxas de intercâmbio de comerciantes e planos de assinatura. Todas as taxas de transação blockchain dentro da carteira Bleap são cobertas por sua infraestrutura. 

A Bleap usa protocolos DeFi para oferecer taxas de poupança em stablecoins denominadas em USD e EUR, explicou Alves. Os usuários podem interagir com produtos DeFi integrados à Bleap diretamente na carteira com um único clique. Alves enfatizou que a Bleap nunca possui os fundos dos usuários, apenas visa simplificar a experiência do usuário. Atualmente, a Bleap está usando o Angle Protocol, que oferece taxas de 13,2% APY e 5,3% APY em stablecoins USD e EUR, respectivamente, com planos de introduzir mais opções ao longo do tempo.

O 'caso de uso matador' das criptomoedas

As stablecoins sem dúvida encontraram adequação ao mercado de produtos, com uma oferta circulante se aproximando de $200 bilhões e gerando mais de $5,1 trilhões em transações globais apenas no primeiro semestre deste ano, de acordo com analistas da gestora de ativos cripto Bitwise. Isso é comparável aos $6,5 trilhões da Visa no mesmo período, com mais $3,1 trilhões gerados por transações de stablecoin no terceiro trimestre.

“Sempre dizemos que a criptomoeda está à beira de encontrar seu caso de uso matador. Bem, aqui está ele”, escreveram Juan Leon e Ari Bookman da Bitwise em um relatório de outubro.

A Bleap está incorporada no Reino Unido e registrada como Provedor de Serviços de Ativos Virtuais (VASP) na Polônia para atender clientes da UE, explicou Alves, com as regulamentações MiCA ajudando a Europa a se tornar um centro chave para a adoção de stablecoins.

“A regulamentação MiCA ajuda muito”, disse Alves. “O que estava acontecendo com a regulamentação na Europa, onde cada país estava individualmente regulamentando a criptomoeda, estava efetivamente quebrando o mecanismo de mercado único que deveríamos ter. Acho que esse foi o pior resultado. A MiCA corrige isso e traz a regulamentação de volta ao nível da UE, onde uma empresa em qualquer país da UE pode atender a UE como um todo. Sob essa perspectiva, é uma coisa ótima.” 

Ele reconheceu que, do ponto de vista operacional, as regulamentações aumentam as barreiras à entrada, o que para startups pode ser difícil de superar. “No entanto, ter uma licença simplifica muitas coisas também, como abrir uma conta comercial para atender clientes — é super fácil de fazer para a Europa com uma licença, mas para outras moedas como USD e GBP é bastante complicado sem uma licença”, acrescentou.

A Bleap está atualmente em beta com um grupo seleto de usuários europeus. Um lançamento público completo está planejado para o primeiro trimestre de 2025, introduzindo pagamentos em criptomoeda em toda a Europa. A Bleap também está buscando expandir para a América Latina no próximo ano, disse Alves.

Além disso, a Bleap planeja lançar seu próprio token em 2026, embora Alves não pudesse compartilhar mais detalhes no momento.

Ex-alunos da Revolut têm um histórico de seguir em frente para construir projetos de criptomoeda. Em abril, o ex-Chefe de Operações de Cripto da Revolut, Rusl